
Dói-nos então perder as chaves, porque sem elas se obstaculiza o nosso acesso a algo que é da nossa propriedade. A chave chegou então a ser um sinal daquilo que encerra. A chave de minha casa, do meu quarto, do meu cofre…
Na antiguidade confiar as chaves era o símbolo de delegar uma autoridade, um sinal de compromisso, uma amostra de confiança, um gesto de responsabilidade. Aquele que recebia as chaves era de máxima confiança, o de maior virtude e fidelidade.
Surgiu então o termo “amo das chaves” (se bem que a sua forma mais empregue era a feminina), para designar o homem que dispunha dos bens da casa segundo o seu prudente juízo, algo assim como o nosso actual administrador. Para se conhecer a importância de um destes sujeitos, bastava deitar o olhar à quantidade de chaves que carregavam e o número de portas que abriam. Muitas chaves, ou chaves grandes: grande responsabilidade.
Que dúvida existe então que o mesmo acontece na amizade. Sem recorrer a forma poéticas muito elaboradas, podemos afirmar com simplicidade que num amigo (essa outra metade da nossa alma), depositámos a chave do nosso coração. Ninguém nos conhece melhor que um amigo, em ninguém se confia mais do que num amigo. Ninguém está mais pronto a escutar-nos e a dar-nos conselho, e por isso o problema que se partilha com um amigo é como que um descanso, como o afirmavam os persas.
Mas nós não só temos amigos: também somos amigos de outras pessoas. Então, que uso damos a esta chave? Alguém confia em nós, como nós confiamos em outras pessoas. Pode custar-nos muito termos perdido uma chave importante. Mas é uma pena muito maior encher-mos de ódio o coração, perdendo uma amizade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário